quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Enfim, mais um ano que termina...

Estamos às vésperas do Ano Novo. Tempo de paz, de amor e de confraternização entre os homens. Pelo menos a última semana do ano será cheia de mensagens de paz e prosperidade brotando de todos os lados. Talvez até mesmo Sharon e Arafat evitem derramar o sangue dos seus concidadãos no final do ano. Logicamente, desde que Arafat não invente de ir à Belém onde, reza a tradição, Jesus teria nascido. Aliás, fico imaginando se Jesus nascesse em nossos dias; não sobreviveria para salvar o mundo. Provavelmente morreria atingido por uma bala perdida no meio da rua, ou num ônibus explodido a caminho da escola. Deus é mesmo sábio!

Ainda tem o invisível e onipresente Bin Laden, para quem a semana natalina não importa, É bem possível até que ele já tenha um plano pronto para detonar a Missa do Galo no Vaticano, o que aceleraria a aposentadoria do nosso senil Papa, que já deve estar de saco cheio – perdoe-me Sua Santidade pela expressão – de clamar por paz aos líderes mundiais, que não estão nem aí. Uma voz perdida no deserto da intolerância mundial.

Na primeira semana de 2011 volta tudo ao normal. O inferno recomeça. Às favas os preceitos cristãos. Jovens palestinos enlouquecidos continuarão a se explodir junto com israelenses inocentes; e israelenses intransigentes continuarão lançando mísseis, matando outros tantos palestinos inocentes em seus territórios.

Na primeira semana de janeiro também voltaremos a lembrar das nossas crianças sem escola e mal alimentadas, nossos miseráveis nos centros urbanos, que desfilam diariamente à nossa vista. Talvez até lembremos dos miseráveis rurais que não vemos no dia-a-dia. Lembraremos também dos nossos políticos corruptos, nossa bandidagem, nossa injusta Justiça e nossa “república paralela do tráfico”, que se institucionaliza a passos largos. Lembraremos da nossa Amazônia que definha, levando consigo inúmeras espécies da fauna e da flora à extinção. Mas afinal ela está ali para isso mesmo; para ser explorada. Não fosse à depredação que causamos ao meio ambiente, não teríamos alçado algumas espécies animais ao status de celebridades, como o Mico-Leão Dourado e a Ararinha Azul.

Ficaremos sabendo logo no segundo dia do ano o saldo de mortes nas estradas, muitas provocadas por motoristas embriagados. Com sorte, até mesmo esses motoristas estarão incluídos nas estatísticas, o que proporcionará uma diminuição no número de irresponsáveis ao volante. Enquanto nos grandes hospitais públicos nossos médicos continuarão com a árdua tarefa de escolher quem morre e quem vive, já que não terão condições de atender a todos, na precariedade do nosso sistema público de saúde.

O importante é que o ano está terminando e nos voltamos mais uma vez para a idéia do ano novo; onde tudo se renova; mais um ano de vida, novas esperanças e votos de um ano melhor.

E esse ano que passou foi mesmo novo. Temos mulher como presidente apoiada pelo  gordinho, de barbas brancas e voz mansa, que iniciou a reforma agrária loteando os cargos públicos existentes, criando outros um tanto duvidosos e distribuindo-os de presente, como é praxe da nossa prática política. Por que não chamá-lo de Papai Noel? Somos, pois, a primeira nação do mundo a ter o Bom Velhinho como Presidente da República. Só lamento o Fome Zero ainda não ter saído do zero.

Temos também tucanos e pefelistas berrando contra o governo os mesmos chavões populistas dos velhos petistas, e novos petistas seguindo a cartilha neo-liberal dos velhos tucanos. Uma verdadeira decepção para quem acredita na promessa de milagres.

Mas, no momento o que importa é seguir os conselhos do Bom Velhinho, o Presidente não, o Papai Noel: vamos consumir, torrar nosso décimo-terceiro com quinquilharias inúteis, presentes para os nossos inimigos-secretos – os amigos também – e muitas confraternizações regadas a álcool e muita farra. Portanto escolha o barzinho e encha a cara – não dirija, caso não queira ser incluído nas estatísticas que mencionei.

Não se esqueça, porém, de ir a um shopping antes. Eles já estão se povoando de Papais-Noel a sua espera. É uma nova geração de Papais-Noel é verdade; capitalistas, chegam de helicóptero – trenó e rena estão fora de moda – e não abrem mão da sua roupa vermelha de frio, apesar do insuportável calor tropical do nosso país nessa época. Mas, diga-se a verdade, são homens trabalhadores. Fazem inúmeros comerciais para pequenas e grandes empresas e se fazem aparecer em toda parte vendendo presentes. Engraçado é que quando eu era criança achava que os presentes eram dados. Ho! Ho! Hooo!!!

Mas Natal hoje em dia é isso. Outro dia meu filho me perguntou por quê o símbolo do Natal era o Papai-Noel e não o Jesus. Dei uma explicação básica. Mas pensando bem, acho que não falta muito para que vejamos por aí vários homens vestidos como Jesus Cristo fazendo anúncios comerciais, dando autógrafos e posando para fotos com criancinhas no meio dos centros comerciais.

Portanto aproveitem todos, pois o melhor é que tudo pode ser parcelado em até dez vezes no seu cartão de crédito, ou no crediário, com a primeira prestação só em Fevereiro, quando então você se dará conta de quanto gastou e começará a pensar em suicídio.


 por MARCIO SAGUES

Nenhum comentário: